sábado, 29 de agosto de 2009

Maria Brandão - Negra e Comunista

Acompanho o Blog NOTÍCIAS DE RIO DE CONTAS e trouxe de lá essa reportagem do jornal A TARDE escrita por JAIME SODRÉ que foi meu professor em uma das disciplinas que cursei na especialização em História e Cultura Afro-Brasileira que fiz.

Já ouvi falar muito nessa mulher extraordinária aqui em Rio de contas, mas agora lendo esta matéria me despertou um interesse maior por sua história e luta.


Esta imagem de Maria Brandão dos Reis está no livro MULHERES NEGRAS DO BRASIL, de autoria de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, publicado em 2007 por Senac Editoras em parceria com a REDEH (Rede de Desenvolvimento Humano). É a foto nº 526, acompanhada das seguinte informações: "Grande liderança popular na Bahia, militante comunista na década de 1940. Reprodução feita a partir do Calendário Comemorativo dos Cem Anos da Abolição. Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo"

Nascida a 22 de julho de 1900 em Rio de Contas. Maria Brandão dos Reis, segundo os autores, “foi um exemplo de mulher negra envolvida na política”. Impressionou-lhe a passagem da Coluna Prestes, avivando o amor pelo Partido Comunista Brasileiro. Idealista, mudou-se para Salvador como destacada liderança. Abriu uma pensão na Baixa dos Sapateiros, (daí o seu deslocamento pela Rua dos Perdões) onde, além de alimentar e hospedar estudantes, caprichava na instrução política destes “filhos adotivos”, ampliando-a para as questões sociais. Piedosa, ajudava aos necessitados.

Em 1947, entrou em ação concreta quando os moradores do Corta Braço foram ameaçados de perderem as suas casas. Ela os ajudou, organizando-os em uma vigília e vibrante passeata de protesto. Como devotada da paz engajou-se na campanha do partido em 1950, encarregando-se da fundação de diversos conselhos em vários municípios. Por sua atitude determinante e incansável, recebeu a indicação de “Campeã da Paz”.

O lado dramático desta história registra-se em um desapontamento imperdoável. Segundo os autores, a premiação pelo seu feito e sua convicção pacificadora, deveria ser realizada em Moscou, onde D. Maria Brandão receberia pessoalmente e merecidamente, o reconhecimento pelo seu idealismo, mas por decisão do partido, ela foi substituída por uma “jovem intelectual”. Esta nem se quer recusou, colaborando com esta desconsideração a uma “senhora negra” de jovens ideias e comprovadas lutas. Mas este fato não passou impune, pois manifestou veementemente a sua revolta frente às lideranças comunistas, registrando para a história desta agremiação política um capitulo menos digno.

Veio o golpe militar de 1964, D. Maria mobiliza-se para escapar da prisão, refugiando-se. De volta a Bahia, em 1965 foi alcançada pela polícia e submetida a interrogatório sobre o seu envolvimento com as idéias comunistas. O inquérito não evoluiu, talvez por reconhecê-la com um verdadeiro agente da paz e que apenas, por sua generosidade, queria um povo feliz, bem alimentado e instruído, conforme demonstram as suas ações naquela pensão, e para isso escolhera a política.

D. Maria Brandão dos Reis, encerrou a sua atividade em nosso mundo em 1965, aguardando o nosso reconhecimento, com o seu nome, quem sabe, nomeando uma das nossas ruas ou na fachada de uma escola?

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