A História de Dandara e Kenderê
(Maria das Graças Sales)
Conta-se que há mais de duzentos anos atrás, vivia num reino à beira-mar, lá na África distante, uma jovem e linda princesa chamada DANDARA.
Ela vivia feliz com seus pais e irmãos, até que um dia chegaram na aldeia uns homens maus que a raptaram e a venderam para um mercador de escravos.
Dandara ficou muito triste por ter se separado de sua família, de sua gente, da terra-natal, que ela tanto amava. Por isso, ela chorou noite e dia, pedindo coragem aos deuses e rogando para que não a abandonassem.
Dias depois, ela foi levada para um navio enorme, onde já se podia ver muitas outras mulheres e homens, alguns de tribos diferentes da sua, que também estavam vivendo o mesmo drama que ela. Foi então que Dandara entendeu que, como os outros, estava para fazer uma viagem. Para onde ninguém sabia.
A viagem foi penosa e durou longos dias. Não havia conforto algum; as pessoas ficavam amontoadas no porão escuro do navio. A comida era pouca e ruim. Muitos deles adoeciam e acabavam morrendo.
No meio de tanta dor, havia solidariedade entre aqueles pobres seres que, às vezes, sem falar a mesma língua (sim, porque eram de tribos diferentes), confortavam-se uns aos outros com um olhar, um gesto, um sorriso...Assim, a esperança de que aquela situação mudasse estava sempre presente.
Aliás, foi um sorriso muito especial que chamou a atenção de Dandara. Tratava-se de um belo jovem chamado Kenderê. Além de forte e altivo, ele demonstrava ser solidário, porque sempre estava ajudando os companheiros. Num certo instante, como que por mágica, os olhares de Kenderê e Dandara se cruzaram e, daí em diante, passaram a estar sempre juntos. Onde um estava, lá também estava o outro.
Não se tinha noção de quanto tempo exatamente havia passado desde que o navio havia deixado o porto.
Certo dia, uma forte tempestade agitou o mar, levantando ondas gigantes! O navio balançava muito.
De repente, ouviu-se um estrondo! O navio havia se chocado com uma grande pedra e começava a entrar água no porão, onde estavam os prisioneiros.
A batida abriu um rombo enorme no casco do navio e daí eles começaram a sair de lá nadando!
Era noite e, assim, os marinheiros e mercadores de escravos nada puderam fazer para impedir a fuga!
Alguns daqueles filhos da África, enfraquecidos durante a viagem, tinham grande dificuldade, mas com a ajuda dos que estavam em melhores condições físicas, conseguiram flutuar agarrados nos pedaços de madeira que se desprenderam do casco e até mesmo em barricas vazias de vinho que, naquela confusão, vieram parar na água.
Depois de muito esforço, e com a proteção do manto negro da noite, muitos deles conseguiram chegar à terra firme. Todos estavam muito cansados, mas felizes! Afinal, haviam sobrevivido! Estavam vivos! Entre eles, estavam Dandara e Kenderê.
Quando o sol veio beijar a praia, eles puderam perceber que haviam chegado num lugar muito bonito, cheio de árvores, e que havia um rio cristalino desaguando por ali.
Temerosos de que aqueles homens maus pudessem encontrá-los de novo, resolveram adentrar a floresta, sempre seguindo uma margem do rio. No meio da mata, com certeza estariam mais protegidos. E assim foram seguindo, dias e dias, alimentando-se com o que a Natureza generosamente lhes oferecia, e descansando à noite. Os obstáculos iam sendo vencidos, ajudando-se uns aos outros. Isto ia estreitando os laços de amizade entre eles, pois tinham que se manter unidos para se manter fortes. Afinal, estavam em terras estranhas, desconhecidas. O perigo rondava o tempo todo. Era preciso estarem atentos para não serem surpreendidos.
Depois de muito caminharem, eles chegaram a um lugar no alto de uma montanha, que parecia seguro. O ar era puro e havia águas límpidas, árvores variadas, lindas orquídeas, pássaros coloridos, bichos de muitos tipos.
Kenderê que, naturalmente, havia se tornado o líder do grupo disse:
“Meus amigos, já faz muitos dias que estamos caminhando. Estou certo de que chegamos num lugar onde, finalmente, poderemos ficar. Temos, aqui, água e comida em abundância. Não podemos, infelizmente, voltar à terra-natal e isso nos deixa triste, mas podemos tentar ser felizes aqui e fazer deste lugar o nosso lar. O que vocês acham?
O grupo inteiro concordou e todos se abraçaram com emoção.
Assim, aquelas pessoas haviam, depois de tanto sofrimento, encontrado um lugar para ser seu lar.
Dandara e Kenderê se casaram, numa linda cerimônia, e tiveram muitos filhos, todos saudáveis e felizes, e continuaram juntos, mais unidos que nunca.
É claro que, de vez em quando, vinha uma saudade danada da Mãe África, onde ficaram a família e os amigos. Então, eles se sentavam de noite, em volta da fogueira, para lembrar e relembrar conversando, cantando e dançando os costumes e as histórias dos povos do outro lado do oceano.
Dizem que aquele navio naufragou na costa da Bahia, perto de Itacaré, e que o rio que eles seguiram é chamado, hoje, de Rio de Contas.
Será verdade ou lenda? Até hoje ninguém sabe ao certo...
Quem gostou, bate palmas.
Entrou pela orelha do pinto, saiu pela boca do pato. Quem quiser que conte quatro!
Essa, eu contei de memória. Quem quiser, pode contar outra história.
Falei, falei, falei e acabei ficando rouca.Agora, quem quiser que conte outra!
Entrou na cabeça de Pedro, saiu pela boca de Jacinto. Agora, quem quiser que conte cinco!
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