quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bia Borboleta


Rio de Contas, dezembro 2005
Maria das Graças Sales


Bia era uma borboleta bonita. Nem alta, nem baixa; nem gorda, nem magra.
Suas asas eram azuis, com pintinhas pretas.
Bia quando se olhava no espelho do lago, esfregava as anteninhas de contentamento, e dizia: “Como sou linda e feliz!”

Ela tinha muitos amigos: a cigarra, a formiga, o grilo, até mesmo o sapo. Toda a bicharada da vizinhança gostava de sua companhia animada e divertida.

Uma manhã, ela estava muito pensativa e seus amiguinhos ficaram preocupados.
“Bia, o que está acontecendo? Você parece triste”, disse o grilo.
“Eu não estou triste. Só estou sentindo saudades.”, disse Bia.
“Saudades de quê?”, perguntou a formiga.
“É estranho, mas estou sentindo saudades de um lugar que eu nunca vi.”- respondeu a borboleta, com o olhar perdido no horizonte.
“Não estou entendendo...”, comentou a cigarra.

Aí, Bia explicou que, um dia, seu pai lhe disse que o pai do pai dele tinha vindo de um lugar muito distante, chamado África, onde muitos parentes haviam ficado . Tantas histórias ela ouviu sobre aquele lugar, que agora estava cheia de vontade de viajar e conhecer as coisas, os lugares, os costumes e os parentes de lá.

Os amigos ficaram mais preocupados.
“Bia, a professora disse que a África fica muuuuuiiiiito longe, do outro lado do oceano! Como é que você vai fazer para chegar lá?! Isso pode ser muito perigoso!” disse o sapo.

“É fácil: vou voando!” , respondeu a borboletinha, já decidida a fazer a viagem.

No dia seguinte, bem cedinho, preparou uma mochilinha com umas coisinhas para comer, umas poucas roupinhas, seus óculos escuros, o protetor solar, e bateu asas rumo ao litoral.

Bia chegou numa praia linda, com águas de um azul mais claro que o de suas asas e areia fina e branquinha. Havia também muitos coqueiros e flores de hibisco. Lá, ela descansou algumas horas e, depois de ter reforçado seu suprimento de néctar, pegou carona num barquinho comandado por um velho marinheiro muito alegre, que cantava o tempo todo. O nome dele era Nicolau.

Pena que “seu” Nicolau não iria até a África. Ele navegava para o Arquipélago de Fernando de Noronha.
Todavia, o velhinho pediu a um golfinho amigo, companheiro de muitas viagens, para levar Bia até um lugar muito bonito chamado Atol das Rocas. De lá ficaria mais fácil para a borboletinha chegar ao seu destino.
Nesse lugar, Bia fez amizade com muitos pássaros. Depois de alguns dias, teve que partir, pois não havia desistido de sua viagem. Não, não! Ela continuava querendo chegar na África, a terra de seus antepassados.

Depois de se despedir dos novos amigos, bateu asas, mais uma vez, e voou para o leste.
Lá pelas tantas, avistou uma pedra grande e pousou para descansar.
De repente, a pedra começou a se mexer!
“Ai, que susto!”exclamou Bia, ao perceber que “a pedra” não era pedra, mas o casco de uma imensa tartaruga marinha.
Logo-logo as duas começaram a conversar e descobriram que estavam indo para o mesmo lugar: a África.

Clotilde, a velha tartaruga, que já tinha uns 300 anos, mais ou menos, contou coisas lindas sobre a terra-natal do bisavô de Bia. Até conhecia umas borboletas muito parecidas com ela: todas tinham asas azuis com pintinhas pretas!
“Devem ser meus parentes! Clô, você me leva lá onde eles moram? Leva?, perguntou Bia, cheia de ansiedade.
“É claro, querida!”,respondeu Clotilde, feliz da vida por poder ajudar sua nova amiga.

E assim aconteceu.
Clotilde levou Bia até uma praia bonita, na costa de um país chamado Angola, onde estavam as matas, os bichos, os lugares, os costumes e os parentes que ela sempre sonhou conhecer. Os parentes africanos adoraram Bia e a encheram de carinhos e presentes.
Mas, o melhor de tudo foi que, lá, Bia pôde encontrar as raízes da história de sua família e aprender de onde tinha vindo um certo jeitinho de se expressar, de fazer arte, de cozinhar... Muitas coisas que ela conhecia desde pequenina, tinham sido trazidas de muito longe por seus antepassados.
E, aí, Bia sentiu muita gratidão por ter recebido tanta coisa boa deles. Ela também sentiu-se ainda mais orgulhosa de suas origens.

Os dias passaram muito rápido. Já era hora de voltar para casa.
Bia retornou para o Brasil, mais feliz que nunca, com o coração explodindo de emoção e a cabeça cheia de lembranças gostosas de sua incrível viagem!

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