quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A História de Dandara e Kenderê



(Maria das Graças Sales)

Conta-se que há mais de duzentos anos atrás, vivia num reino à beira-mar, lá na África distante, uma jovem e linda princesa chamada DANDARA.
Ela vivia feliz com seus pais e irmãos, até que um dia chegaram na aldeia uns homens maus que a raptaram e a venderam para um mercador de escravos.
Dandara ficou muito triste por ter se separado de sua família, de sua gente, da terra-natal, que ela tanto amava. Por isso, ela chorou noite e dia, pedindo coragem aos deuses e rogando para que não a abandonassem.
Dias depois, ela foi levada para um navio enorme, onde já se podia ver muitas outras mulheres e homens, alguns de tribos diferentes da sua, que também estavam vivendo o mesmo drama que ela. Foi então que Dandara entendeu que, como os outros, estava para fazer uma viagem. Para onde ninguém sabia.
A viagem foi penosa e durou longos dias. Não havia conforto algum; as pessoas ficavam amontoadas no porão escuro do navio. A comida era pouca e ruim. Muitos deles adoeciam e acabavam morrendo.
No meio de tanta dor, havia solidariedade entre aqueles pobres seres que, às vezes, sem falar a mesma língua (sim, porque eram de tribos diferentes), confortavam-se uns aos outros com um olhar, um gesto, um sorriso...Assim, a esperança de que aquela situação mudasse estava sempre presente.
Aliás, foi um sorriso muito especial que chamou a atenção de Dandara. Tratava-se de um belo jovem chamado Kenderê. Além de forte e altivo, ele demonstrava ser solidário, porque sempre estava ajudando os companheiros. Num certo instante, como que por mágica, os olhares de Kenderê e Dandara se cruzaram e, daí em diante, passaram a estar sempre juntos. Onde um estava, lá também estava o outro.
Não se tinha noção de quanto tempo exatamente havia passado desde que o navio havia deixado o porto.
Certo dia, uma forte tempestade agitou o mar, levantando ondas gigantes! O navio balançava muito.
De repente, ouviu-se um estrondo! O navio havia se chocado com uma grande pedra e começava a entrar água no porão, onde estavam os prisioneiros.
A batida abriu um rombo enorme no casco do navio e daí eles começaram a sair de lá nadando!
Era noite e, assim, os marinheiros e mercadores de escravos nada puderam fazer para impedir a fuga!
Alguns daqueles filhos da África, enfraquecidos durante a viagem, tinham grande dificuldade, mas com a ajuda dos que estavam em melhores condições físicas, conseguiram flutuar agarrados nos pedaços de madeira que se desprenderam do casco e até mesmo em barricas vazias de vinho que, naquela confusão, vieram parar na água.
Depois de muito esforço, e com a proteção do manto negro da noite, muitos deles conseguiram chegar à terra firme. Todos estavam muito cansados, mas felizes! Afinal, haviam sobrevivido! Estavam vivos! Entre eles, estavam Dandara e Kenderê.
Quando o sol veio beijar a praia, eles puderam perceber que haviam chegado num lugar muito bonito, cheio de árvores, e que havia um rio cristalino desaguando por ali.
Temerosos de que aqueles homens maus pudessem encontrá-los de novo, resolveram adentrar a floresta, sempre seguindo uma margem do rio. No meio da mata, com certeza estariam mais protegidos. E assim foram seguindo, dias e dias, alimentando-se com o que a Natureza generosamente lhes oferecia, e descansando à noite. Os obstáculos iam sendo vencidos, ajudando-se uns aos outros. Isto ia estreitando os laços de amizade entre eles, pois tinham que se manter unidos para se manter fortes. Afinal, estavam em terras estranhas, desconhecidas. O perigo rondava o tempo todo. Era preciso estarem atentos para não serem surpreendidos.
Depois de muito caminharem, eles chegaram a um lugar no alto de uma montanha, que parecia seguro. O ar era puro e havia águas límpidas, árvores variadas, lindas orquídeas, pássaros coloridos, bichos de muitos tipos.
Kenderê que, naturalmente, havia se tornado o líder do grupo disse:
“Meus amigos, já faz muitos dias que estamos caminhando. Estou certo de que chegamos num lugar onde, finalmente, poderemos ficar. Temos, aqui, água e comida em abundância. Não podemos, infelizmente, voltar à terra-natal e isso nos deixa triste, mas podemos tentar ser felizes aqui e fazer deste lugar o nosso lar. O que vocês acham?
O grupo inteiro concordou e todos se abraçaram com emoção.
Assim, aquelas pessoas haviam, depois de tanto sofrimento, encontrado um lugar para ser seu lar.
Dandara e Kenderê se casaram, numa linda cerimônia, e tiveram muitos filhos, todos saudáveis e felizes, e continuaram juntos, mais unidos que nunca.
É claro que, de vez em quando, vinha uma saudade danada da Mãe África, onde ficaram a família e os amigos. Então, eles se sentavam de noite, em volta da fogueira, para lembrar e relembrar conversando, cantando e dançando os costumes e as histórias dos povos do outro lado do oceano.
Dizem que aquele navio naufragou na costa da Bahia, perto de Itacaré, e que o rio que eles seguiram é chamado, hoje, de Rio de Contas.
Será verdade ou lenda? Até hoje ninguém sabe ao certo...




Quem gostou, bate palmas.
Entrou pela orelha do pinto, saiu pela boca do pato. Quem quiser que conte quatro!
Essa, eu contei de memória. Quem quiser, pode contar outra história.
Falei, falei, falei e acabei ficando rouca.Agora, quem quiser que conte outra!
Entrou na cabeça de Pedro, saiu pela boca de Jacinto. Agora, quem quiser que conte cinco!

Bia Borboleta


Rio de Contas, dezembro 2005
Maria das Graças Sales


Bia era uma borboleta bonita. Nem alta, nem baixa; nem gorda, nem magra.
Suas asas eram azuis, com pintinhas pretas.
Bia quando se olhava no espelho do lago, esfregava as anteninhas de contentamento, e dizia: “Como sou linda e feliz!”

Ela tinha muitos amigos: a cigarra, a formiga, o grilo, até mesmo o sapo. Toda a bicharada da vizinhança gostava de sua companhia animada e divertida.

Uma manhã, ela estava muito pensativa e seus amiguinhos ficaram preocupados.
“Bia, o que está acontecendo? Você parece triste”, disse o grilo.
“Eu não estou triste. Só estou sentindo saudades.”, disse Bia.
“Saudades de quê?”, perguntou a formiga.
“É estranho, mas estou sentindo saudades de um lugar que eu nunca vi.”- respondeu a borboleta, com o olhar perdido no horizonte.
“Não estou entendendo...”, comentou a cigarra.

Aí, Bia explicou que, um dia, seu pai lhe disse que o pai do pai dele tinha vindo de um lugar muito distante, chamado África, onde muitos parentes haviam ficado . Tantas histórias ela ouviu sobre aquele lugar, que agora estava cheia de vontade de viajar e conhecer as coisas, os lugares, os costumes e os parentes de lá.

Os amigos ficaram mais preocupados.
“Bia, a professora disse que a África fica muuuuuiiiiito longe, do outro lado do oceano! Como é que você vai fazer para chegar lá?! Isso pode ser muito perigoso!” disse o sapo.

“É fácil: vou voando!” , respondeu a borboletinha, já decidida a fazer a viagem.

No dia seguinte, bem cedinho, preparou uma mochilinha com umas coisinhas para comer, umas poucas roupinhas, seus óculos escuros, o protetor solar, e bateu asas rumo ao litoral.

Bia chegou numa praia linda, com águas de um azul mais claro que o de suas asas e areia fina e branquinha. Havia também muitos coqueiros e flores de hibisco. Lá, ela descansou algumas horas e, depois de ter reforçado seu suprimento de néctar, pegou carona num barquinho comandado por um velho marinheiro muito alegre, que cantava o tempo todo. O nome dele era Nicolau.

Pena que “seu” Nicolau não iria até a África. Ele navegava para o Arquipélago de Fernando de Noronha.
Todavia, o velhinho pediu a um golfinho amigo, companheiro de muitas viagens, para levar Bia até um lugar muito bonito chamado Atol das Rocas. De lá ficaria mais fácil para a borboletinha chegar ao seu destino.
Nesse lugar, Bia fez amizade com muitos pássaros. Depois de alguns dias, teve que partir, pois não havia desistido de sua viagem. Não, não! Ela continuava querendo chegar na África, a terra de seus antepassados.

Depois de se despedir dos novos amigos, bateu asas, mais uma vez, e voou para o leste.
Lá pelas tantas, avistou uma pedra grande e pousou para descansar.
De repente, a pedra começou a se mexer!
“Ai, que susto!”exclamou Bia, ao perceber que “a pedra” não era pedra, mas o casco de uma imensa tartaruga marinha.
Logo-logo as duas começaram a conversar e descobriram que estavam indo para o mesmo lugar: a África.

Clotilde, a velha tartaruga, que já tinha uns 300 anos, mais ou menos, contou coisas lindas sobre a terra-natal do bisavô de Bia. Até conhecia umas borboletas muito parecidas com ela: todas tinham asas azuis com pintinhas pretas!
“Devem ser meus parentes! Clô, você me leva lá onde eles moram? Leva?, perguntou Bia, cheia de ansiedade.
“É claro, querida!”,respondeu Clotilde, feliz da vida por poder ajudar sua nova amiga.

E assim aconteceu.
Clotilde levou Bia até uma praia bonita, na costa de um país chamado Angola, onde estavam as matas, os bichos, os lugares, os costumes e os parentes que ela sempre sonhou conhecer. Os parentes africanos adoraram Bia e a encheram de carinhos e presentes.
Mas, o melhor de tudo foi que, lá, Bia pôde encontrar as raízes da história de sua família e aprender de onde tinha vindo um certo jeitinho de se expressar, de fazer arte, de cozinhar... Muitas coisas que ela conhecia desde pequenina, tinham sido trazidas de muito longe por seus antepassados.
E, aí, Bia sentiu muita gratidão por ter recebido tanta coisa boa deles. Ela também sentiu-se ainda mais orgulhosa de suas origens.

Os dias passaram muito rápido. Já era hora de voltar para casa.
Bia retornou para o Brasil, mais feliz que nunca, com o coração explodindo de emoção e a cabeça cheia de lembranças gostosas de sua incrível viagem!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

Feira de Livros...



Participei essa semana da Feira de Livros do SESC Conquista, levei as histórias de Kwaku Anansi, conto africano que responde a pergunta: Como as histórias vieram parar na Terra? E Bia Borboleta, de Maria das Graças Salles. A Feira, esse ano, aconteceu dentro do VI Congresso de Educação de Vitória da conquista.

Desde 2000 que a Oficina de Sonhos e Bonecos participa das atividades da Feira de Livros do SESC, com oficinas de contação de histórias, incentivo a leitura, e peças de teatro de bonecos. Em 2001 apresentamos a peça "O Macaco e a Velha", em 2002 foi a vez do Sítio do Picapau Amarelo com a peça "Pirlimpimpim", já em 2003 o homenageado foi Ziraldo e apresentamos "Um Sonho Muito Maluquinho" a busca de uma menina pelos caminhos da leitura, em 2004 a peça "Uns Tantos Sentidos da Leitura" passou a mensagem da inclusão e da importancia de nunca desistirmos diante dos obstáculos.

Foram experiências maravilhosas!

Fiquei muito feliz em retornar á esse evento, agora levando contos africanos e histórias da tradição oral, encontrei muita gente querida e que representam muito para mim, que fazem parte de minha caminhada e da Sonhos e Bonecos!

Beijão em todos, espero que vibrem também com minha alegria!

Flávia

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Lançamento do Ponto de Cultura.

Evento de lançamento do PONTO DE CULTURA SONHOS E BONECOS e do Livro GARIMPO DE IMAGENS de Aristides Alves

DIA: 27 de novembro
HORA: 17 hs
LOCAL: Calçadão do Fórum, em frente à Biblioteca Pública Municipal
Eventos simultâneo: Feira Cultural da Escola Despertar.

PARCEIROS:

• Ponto de Cultura Sonhos e Bonecos

• Grãos de Luz e Griô

• Escola Despertar

• BIBLOS - Sociedade Amigos da Biblioteca

. Agenda 21 de Rio de Contas



• APRESENTAÇÕES:

Trança fitas (Escola Despertar)

Peça de teatro de Bonecos (Casinha dos Sonhos)

Coreografia: AFRICAS (Casinha dos Sonhos)

Puxada de rede e roda de capoeira (Casinha dos Sonhos)

Terno de reis De Seu Benedito (à confirmar)

Terno de Reis As Pastorinhas(à confirmar)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pedagogia Griô em Vitória da Conquista!





Queridas Educadoras que começaram a sua caminhada nessa linda pedagogia que é a Griô, aqui estão as letras das cantigas que prometi, não esqueçam de “jogar” o seu versinho!

Um grande abraço!

Flávia Pacheco


“Veio lá de Conquista
para aqui nos visitar
nós queremos te abraçar
com muita categoria
quando vem traz alegria
quando vai deixa saudade

seja bem vindo a nossa comunidade
seja bem vindo a nossa comunidade”(Aprendida com o grupo do Assentamento do Rose - Feira de Santana)

“Não faça o mal, quem te faz o bem
Eu vou ao mar, depois eu vem
E lá no mar, tem uma pedra
Nessa pedra mora uma índia
Eu vi a pedra embalançar
Essa índia eu vou buscar” (Aprendida com dona Rosa – Comunidade do Remanso, Lençóis – Ba)


“Eu ia passando, boi de Mariá
Lá no bebedouro, boi de Mariá
Meu chapéu caiu, boi de Mariá
Meu amor panhô, ô ya ya” (Aprendida com o Velho Griô)


“Ô Maria manteiga, meu bem
Você dá desse lado, eu também
Você dá desse outro eu também dô
Umbigada no meio, que mal tem?”(Aprendida com Dona Almerinda, 97 anos, minha avó)

“Cumpade se galinheiro
Dê milho a sua galinha
Seu filho mal ensinado
Passou na minha porta
Com par de namorá (bis)

Palma dentro
Palma fora
E pisa o milho
E sopra o fogo
Cuidado com a brasa!” (Aprendida com Márcio Griô – Lençóis - Ba)


“O capim da lagoa, já cresceu
Amarelou o veado comeu (bis)
Lá vem o rei e a rainha (bis)
O rei é seu a rainha é minha (bis)
O capim da lagoa, já cresceu
Amarelou o veado comeu (bis)” (cantiga típica da Chapada dos Veadeiros)


“Eu vi o sol, vi a lua clarear
Eu vi meu bem dentro do canavial (bis)” (Aprendida com seu Benedito do Pirulito – Rio de Contas)


“Estava de baixo,De um arvoredo
Ao meio dia, Estava descansando
Ouvi um canto, Tão saudoso
Só me parece
Um passarinho cantando
Mas que bicho feio, Virgem Mãe de Deus
É o Jaraguá, ô maninha
Para pegar o Mateus

Chegou chegou
Já chegou meu Jaraguá
O bichinho é bonitinho, Ele sabe vadiar
Cumprimenta cumprimenta
Acriançada, jaraguá
O bichinho é bonitinho, Ele sabe vadiar
Ta bonito ta bonito
Ta bonito jaraguá
O bichinho é bonitinho, Ele sabe vadiar
Cata piolho cata piolho Cata piolho jaraguá
O bichinho é bonitinho, Ele sabe vadiar
Faz cafuné faz cafuné Faz cafuné, jaraguá
O bichinho é bonitinho Ele sabe vadiar
Meia volta meia volta Volta e meia, jaraguá
O bichinho é bonitinho Ele sabe vadiar
Vai embora vai embora Vai embora, jaraguá
O bichinho é bonitinho Ele sabe vadiar
Foi embora foi embora Foi embora, jaraguá
O bichinho é bonitinho Ele sabe vadiar” (Do grupo Carroça de Mamulengos, aprendida com Shell)


“Olha a cobra olha a jibóia
Olha o bote que ela dá
Arreda do seu caminho
deixa a jibóia passar” (Aprendida com Márcio Griô – Lençóis - Ba)

“Caranguejinho, tá andando tá andando (bis)
Ô ta na boca do buraco?
Carangueijo sinhá!”(Aprendida com Márcio Griô – Lençóis - Ba)

“Periquito maracanã
Cadê a sua Yayá (bis)
Faz um ano faz um dia
que eu não vejo ela passar (bis)” (Aprendida com Márcio Griô – Lençóis – Ba, que aprendeu com Caio , 9 anos)


“Bota a canga no boi, carreia carreador
Bota a canga no boi, carreia carreador
É hora, é hora, é hora
Quem mora perto é cedo,
mas quem mora longe é hora” (bis) (Aprendida com Isabel de Rio de Contas)


“Eu vou alí e volto já, vou buscar maracujá
Eu vou alí e volto cedo, vou buscar limão azedo”


“Adeus o Homem, adeus mulher
Até amanhã se Deus quiser”


“Chora bananeira, bananeira chora
Chora bananeira que eu preciso ir embora
Vou me embora, eu já vou me embora
Eu não sou daqui, eu sou de lá de fora”


Gente, eu acho que são só essas, mas se tiver alguma mais é só pedir!

Beijão!